Não é novidade para ninguém que a Espanha é um país culturalmente rico. E não é só porque eles têm dois dos maiores times de futebol do mundo, não. E nem só porque a culinária espanhola é diversa em ingredientes e sabores, ou porque seus músicos contemporâneos são conhecidos no mundo inteiro. Ou até mesmo por que o flamenco é uma das formas de dança mais expressivas do planeta... ok, deu para entender.

A diversidade cultural é o que torna um país tão rico e variado, e é o que atrai sua população e até mesmo pessoas vindas de outros lugares a imergirem cada vez com uma identidade que é única. E no caso da Espanha, é inegável que suas tradições, tão popularmente conhecidas, se tornaram uma marca expressiva de identidade nacional.

Uma dessas marcas são as touradas. Você pode nunca ter visto um espetáculo ao vivo, mas com certeza já deve tê-lo visto referenciado em diversas obras. É isso mesmo, tendo surgido na própria Espanha, as touradas continuam a enlouquecer multidões, e a causar polêmicas.

Antes das touradas

A tradição das touradas já vem de muito tempo. Na Antiguidade, o animal já era louvado como um deus da fertilidade e antes do casamento, o noivo tinha que matar um para poder ter uma união próspera. Já na Idade Média, a caça ao touro já havia se consagrado como um esporte de demonstração de bravura e coragem.

Naquela época, os touros eram perseguidos pela população até a exaustão. Hoje em dia, isso não acontece mais, mas em Pamplona, capital de Navarra, existe uma tradição até hoje praticada, onde 2 mil pessoas correm dos touros que são liberados pelo centro histórico da cidade na festa de São Firmino. Contudo, o evento gera preocupações e discussões sobre o bem-estar animal e até mesmo humano. Na última corrida, cinco se feriram.

Como surgiu a prática como a conhecemos hoje?

Apesar dessas práticas antecederem as touradas e servirem como base para a atração que temos hoje, o esporte propriamente dito só viria a surgir muitos séculos depois. Primeiro como parte das festividades da coroação do Rei Afonso VII. Entretanto, as touradas era bem diferentes, com um cavaleiro montado para cansar o bicho e os plebeus servindo como escudeiros, tentando contê-lo.

Com a chegada da dinastia Bourbon à Espanha em meados do século XVIII, família essa que tomou o controle da monarquia espanhola após a Guerra de Sucessão Espanhola. Naqueles tempos, casas aristocráticas se organizavam para deter poder em diversos reinos da Europa. Mas como a chegada dos Bourbon, que já governavam a França, mudou para sempre as touradas?

Simples: os Bourbon abriram mão de diversões rústicas em prol das regalias da corte. Com isso, as arenas acabaram ficando livres para que camponeses e boiadeiros pudessem recriar a tourada. Assim sendo, os papéis se inverteram e o escudeiro passou a ser quem cansa o animal, enquanto o cavaleiro passou a conter sua força.

As touradas na contemporaneidade

Nos dias atuais, as touradas continuam a existir e são um traço característico da cultura espanhola. Em 2013, foi aprovada a lei nº 18 que classifica a tauromaquia como “interesse de bem cultural”, o que a protege de forma legal, mesmo que a população seja contrária à prática.

As touradas ainda dividem opiniões. Em 2010, três anos antes da aprovação da lei nº 18, a Catalunha já havia proibido o exercício da tauromaquia e os espetáculos em todo o seu território, o que gerou debates sobre autonomia cultural e política, e até mesmo sobre a legitimidade das touradas.

É inegável que a percepção pública sobre a tauromaquia mudou. Em cidades como Madrid, capital da Espanha, e Sevilha, as apresentações são recorrentes, mas as touradas enfrentam dificuldade para captar uma audiência e conseguir investimento público. Esse ano, foi apresentada uma Iniciativa Legislativa Popular (ILP) que tentava revogar esse status, mas que acabou não sendo aprovada devido à abstinção decisiva do Partido Socialista Operário (PSOE).

Apesar das mudanças, as touradas continuam a ser uma forte expressão da cultura espanhola. Há quem diga que é problemático, e há quem defenda que é uma herança marcante que deve ser mantida e respeitada. E você, o que acha?

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